O Relógio
Isidoro tinha medo que o tempo passa-se. Tinha medo de não conseguir fazer algo digno de registo. Olhava constantemente para o relógio, com medo de deixar passar o tempo sem nada fazer. O medo cresceu, uma obsessão apoderou-se de Isidoro…. olhava exclusivamente para o relógio. E a contagem decrescente prosseguia sempre ao mesmo ritmo, segundo a segundo, dia após dia….
Anos se passaram, Isidoro achou que já não tinha tempo e perdeu o medo, mas continuava a olhar para o relógio porque estava viciado ou porque se tinha habituado e não sabia fazer mais nada. Gostava de recordar o tempo em que fora criança, que brincava e não sabia ver as horas. Enquanto criança não fazia planos ou arquitecturas para o futuro, só existiam noites e dias. Agora enquanto o relógio consumia os dias, tinha quase a certeza que não existia futuro… o tempo é sempre igual, é um ciclo que se repete de 12 em 12 horas, a única diferença é a quantidade de luz que varia alternadamente… dias e noites. A única frase que Isidoro dizia: “ Em criança sabia mais que agora.”
No manicómio, assim os populares lhe chamavam, onde vivia, nunca ninguém reparou nos problemas de Isidoro, talvez porque cada médico, cada enfermeiro tivesse o seu próprio tempo, tivesse o seu próprio relógio. Isidoro também tinha o seu próprio tempo, talvez com mais consciência do que outra pessoa qualquer, o seu tempo psicológico era igual ao seu tempo biológico, que achava igual ao tempo físico.
O relógio parou. Isidoro morreu, o seu relógio era um relógio que media o tempo através das pulsações…
Quem herdou o relógio foi o sobrinho Inácio, amigo da pândega e do mulherio.
Colocou o relógio no pulso e logo começou a fazer projectos para o futuro. A ansiedade aumentava de dia para dia… tinha um objectivo claro para um futuro breve, ficar rico e famoso. Quanto mais o tempo passava menos probabilidade tinha de atingir o seu objectivo. Olhava constantemente para relógio … continuava a medir o tempo em espaços cada vez mais curtos…. Media o tempo segundo a segundo.
Quem sentiu a sua falta, a de Inácio, foi a Rita. Ainda bem que o fez, que o homem estava completamente vidrado no maldito relógio. Dançaram os dois como se fossem um só, dançaram na pista dos lençóis brancos ao som da música dos desejos secretos, aumentaram o volume até ao limite das suas forças físicas…
Inácio, até ter aquele relógio media o tempo, pelas distância entre cada foda… ou um outro qualquer prazer menor… «Maldito relógio que quase arruinava a minha vida, a minha riqueza é o amor e a música de cada momento. O futuro são o adicionar de novos momentos, e se planos para o futuro faço é porque cada plano é um momento que guardo com alegria…. mesmo que não se realize, o plano, terei dele lembrança… De trabalho, comida e bebida também é o homem feito….», pensou Inácio.
Quando Rita se foi embora, Inácio ganhou coragem porque era um objecto atraente, partiu o relógio. Partiu e viu, do interior, sair uma luz, parecida como seu tio maluco. Viu fogo, ou julgou que viu porque tudo isto foi um breve momento, e viu o Diabo, como se todo o Inferno estivesse contido naquele maldito relógio… deitou o relógio ao rio, que se o diabo gosta de fogo não deve gostar muito de água… e mais que não fosse aquele relógio havia de ficar perdido no tempo…
Ainda bem que o prazer o tinha safo de um fogo eterno….
Anos se passaram, Isidoro achou que já não tinha tempo e perdeu o medo, mas continuava a olhar para o relógio porque estava viciado ou porque se tinha habituado e não sabia fazer mais nada. Gostava de recordar o tempo em que fora criança, que brincava e não sabia ver as horas. Enquanto criança não fazia planos ou arquitecturas para o futuro, só existiam noites e dias. Agora enquanto o relógio consumia os dias, tinha quase a certeza que não existia futuro… o tempo é sempre igual, é um ciclo que se repete de 12 em 12 horas, a única diferença é a quantidade de luz que varia alternadamente… dias e noites. A única frase que Isidoro dizia: “ Em criança sabia mais que agora.”
No manicómio, assim os populares lhe chamavam, onde vivia, nunca ninguém reparou nos problemas de Isidoro, talvez porque cada médico, cada enfermeiro tivesse o seu próprio tempo, tivesse o seu próprio relógio. Isidoro também tinha o seu próprio tempo, talvez com mais consciência do que outra pessoa qualquer, o seu tempo psicológico era igual ao seu tempo biológico, que achava igual ao tempo físico.
O relógio parou. Isidoro morreu, o seu relógio era um relógio que media o tempo através das pulsações…
Quem herdou o relógio foi o sobrinho Inácio, amigo da pândega e do mulherio.
Colocou o relógio no pulso e logo começou a fazer projectos para o futuro. A ansiedade aumentava de dia para dia… tinha um objectivo claro para um futuro breve, ficar rico e famoso. Quanto mais o tempo passava menos probabilidade tinha de atingir o seu objectivo. Olhava constantemente para relógio … continuava a medir o tempo em espaços cada vez mais curtos…. Media o tempo segundo a segundo.
Quem sentiu a sua falta, a de Inácio, foi a Rita. Ainda bem que o fez, que o homem estava completamente vidrado no maldito relógio. Dançaram os dois como se fossem um só, dançaram na pista dos lençóis brancos ao som da música dos desejos secretos, aumentaram o volume até ao limite das suas forças físicas…
Inácio, até ter aquele relógio media o tempo, pelas distância entre cada foda… ou um outro qualquer prazer menor… «Maldito relógio que quase arruinava a minha vida, a minha riqueza é o amor e a música de cada momento. O futuro são o adicionar de novos momentos, e se planos para o futuro faço é porque cada plano é um momento que guardo com alegria…. mesmo que não se realize, o plano, terei dele lembrança… De trabalho, comida e bebida também é o homem feito….», pensou Inácio.
Quando Rita se foi embora, Inácio ganhou coragem porque era um objecto atraente, partiu o relógio. Partiu e viu, do interior, sair uma luz, parecida como seu tio maluco. Viu fogo, ou julgou que viu porque tudo isto foi um breve momento, e viu o Diabo, como se todo o Inferno estivesse contido naquele maldito relógio… deitou o relógio ao rio, que se o diabo gosta de fogo não deve gostar muito de água… e mais que não fosse aquele relógio havia de ficar perdido no tempo…
Ainda bem que o prazer o tinha safo de um fogo eterno….
4 Comments:
O relógio faz-nos perder os momentos...Todos os Inácios deveriam ter uma Rita...
Beijo terno.
.....Isidoros, Inácios e Ritas, peões de fogueiras da cegueira e do desepero, são arrastados pelas correntes de rios de águas turvas, a vida não dá tréguas, a vida é uma complexa teia de conflitos, uns que criamos outros que nos impõem.....
Abraço
Como Inácio foi capaz de pressentir, não devemos ser escravos do tempo.
... não gosto do objecto, atrapalha-me o pulso, prende-me a compromissos, a mim que sou uma amante da liberdade!
;)
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