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Localização: Trás-Os-Montes, Portugal

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Sem Cérebro


I
( O Salvador)


Ano 2100.
Anastácio da Silva foi hoje condecorado, pelo Presidente da República, tão singular homenagem, embora tardia, deve-se aos seus grandes feitos em prol da humanidade. O Homem pode agora sorrir para o futuro, embora Anastácio não o consiga fazer e talvez nunca mais tenha essa simples capacidade que nos parece tão leve como o bater de asas duma borboleta.
Todos os países já ofereceram ajuda, com os seus melhores cirurgiões e outros elementos ligados à ciência médica, para tirarem Anastácio do estado vegetativo em que se encontra há mais de 2 meses.
Anastácio também conhecido pelo Homem Verde ganhou fama graças à construção de uma nova esperança para a sobrevivência do Homem.
Nem sempre foi conhecido pelo Homem Verde, alguém lhe colocou esta alcunha há cerca de três meses, ganhando grande divulgação a partir do momento em que entrou neste estado de profundo coma.
Alcunhas foi coisa que nunca lhe faltou, ora conhecido como o Tarado Sexual, sobretudo pelos homens, ora conhecido pela Máquina Sexual, devido ao seu elevado desempenho no sexo oposto. Os seus atributos naturais aliados ao precioso charme, segundo dizem, faziam dele um alvo sexual da espécie feminina. Graças à sua frase difundida nas revistas da moda, «Ao Natural é que é bom.», não é de estranhar que tenha espalhado por esse mundo fora, inúmeros descendentes.
Anastácio, o Homem Verde, não era tarado sexual por paranóia ou filosofia de vida, era assim por vício. Viciado em sexo portanto.
Tudo começou ainda jovem. Anastácio era contra a intolerância biológica. Nada esquisito visto cada homem ter apenas duas alternativas, ser Heterossexual ou Homossexual. O bissexualismo, segundo o Homem Verde, não passava de uma mistura algo indecisa entre o Homossexualismo e o Heterossexuais. Duas alternativas! Que raio! Está bem, há sempre a zoofilia, mas isso não passa de pura taradice.
Quando entrou para a Universidade escolheu o curso de Botânica, não foi a primeira opção mas não ficou desiludido. A primeira opção era Física, o seu intuito era apenas descobrir uma forma de dar uma foda quântica.
Com o curso de Botânica teria emprego assegurado, é o curso que actualmente tem mais saída. É preciso ver que devido ao efeito de estufa, aquecimento global do planeta, etc., estamos num tempo em que árvores são escassas, praticamente inexistentes. O pior não é a escassez de árvores é a falta de oxigénio. A falta de oxigénio como seria de esperar embora nunca nada tivesse sido feito em contrário coloca em perigo a humanidade, quer devido à falta do mesmo quer devido à alimentação escassa também provocada pela falta de oxigénio visto os animais não conseguirem sobreviver.
Anastácio, brincalhão com as meninas era também um excelente aluno, tirou o mestrado e logo em seguida o doutoramento em genética.
Foi na altura em que tirava o doutoramento, e por conseguinte aumentava os seus conhecimentos na genética, que descobriu que o seu vício pelo sexo não era psicológico mas sim um problema fisiológico, durante o orgasmo não produzia as quantidades mínimas de testosterona para se sentir realizado. Não produzia testosterona mas produzia uma substância que embora inofensiva ao nível neuronal causava dependência física.
Impulsionado pelos seus conhecimentos, pela tentação de se curar do mal que o desgastava e ainda pela sua intolerância biológica, meteu mãos à obra. “Inventou” uma planta transgénica parecida com uma mulher. Parecida é uma forma exagerada de dizer, parecida na forma talvez seja mais correcto. A «Planta do Amor», assim conhecida tinha um tronco algo parecido às pernas de uma mulher do joelho para cima, crescia na vertical até mais ou menos a altura da cinta, onde se arredondava com as ancas de uma mulher vista de costas, e depois crescia na horizontal formando na extremidade algo parecido com uma cabeça. A planta tinha “cabelos”, rama que brotava da cabeça em forma de uma trepadeira, tinha “seios” com a forma de uma manga cortada a meio, tinha mamilos com a forma de morango. Todo o tronco tinha uma casca parecida à da maçã, a “vagina” tinha uma textura exterior parecida à casca de Kiwi, o interior era parecido com os gomos de uma romã sumarenta, mesmo os olhos eram parecidos com duas tulipas que emanavam uma excitante fragrância.
Se bem que agora Anastácio tivesse mais uma opção sexual, ainda não tinha resolvido o seu problema de testosterona, embora agora não precisa-se procurar sexo fora de casa para matar o vício. Era uma planta de interior, produziu grandes quantidades destas plantas que tinham algumas particularidades curiosas, aquando do acto sexual abanavam em frenesim os “cabelos”, libertavam grandes quantidades de oxigénio e não precisavam de adubo, bastava para a sua nutrição uma atenção cuidada e frequente. Atenção cuidada e frequente pois eram plantas muito sensíveis que reagiam mal a produtos químicos, eram e são, portanto, plantas “biológicas”. Precisavam, para ser mais conciso, embora grosseiro, de sexo sem preservativo, ao natural como era timbre de Anastácio. Plantas que viviampara o amor e viviam do amor, etenda-se que não tinham gula desmedida de amor, bastava-lhes os restos, as sobras do prazer amoroso.
A libertação de oxigénio não foi propositada, mas Anastácio viu ali uma oportunidade de negócio, queria enriquecer a toda à força, e decidiu comercializar estas plantas. Em boa hora o fez, estamos numa época em que os tabus sexuais acabaram. A “Planta do Amor”, assim conhecida, fez e continua a fazer um enorme sucesso, quer ao nível ambiental quer mesmo ao nível moral visto ter acabado com a profissão pouco digna e contudo a mais antiga.
Anastácio aproveitando os subsídios estatais a que tinha direito pela criação do negócio e ainda pelos abismais lucros da venda da patente, deixou de trabalhar. Vivia exclusivamente para o sexo vegetal e para o seu estudo com o intuito de acabar com a sua dependência. “Inventou” outra planta, esta só para ele, em tudo igual às anteriores. Em tudo menos na rama (cabelos) e na libertação de oxigénio. A rama agora tinha a forma e a textura de uma silva que se enrolava no amante durante o acto sexual. Ao agarra-se, no amante neste caso o Anastácio, espetava os seus espinhos e por esses espinhos libertava no corpo humano grandes quantidade de testosterona. Os resultados foram fenomenais nem Anastácio esperava tanto, o seu problema estava resolvido. Dedicou-se então ao sexo carnal, que o físico também precisa dalgum encanto através da fala. Já não via grande interesse no sexo vegetal. Mulheres era sempre a aviar, tinha perdido o vício mas não o apetite, era um homem insaciável. Mulheres não faltavam, graças aos seus atributos, já discutido, à sua fama de salvador da humanidade bem como sua enorme riqueza. Milhares de mulheres por todo o mundo tinham como sonho passar uma noite com ele e quem sabe um filho.
Não passaram por falta de tempo, Anastácio chegaria certamente para todas, apesar dá sua cada vez maior jovialidade e frescura algo de estranho se passava com ele, ia ganhando aos poucos uma coloração verde. Com certeza alguma mutação genética, não se sabe bem ao certo. Seja como for, quando ficou completamente verde entrou neste estado vegetativo em que agora se encontra.

(Continua amanhã)

2 Comments:

Blogger antónio paiva said...

.....tudo quanto é excesso, deixa-nos verdes, roxos, amarelados, enfim, vamos lá ver se o Anastácio recupera do coma, caso contrário foi "comido" de vez......

Abraço

3:17 da tarde  
Blogger Winterdarkness said...

O simples bater das asas da borboleta pode ter mais consequencias do que pensamos... Criaturas como esta nem imaginam a dor que vão causando à medida que ficam marcadas nas vidas dos outros. Quando ela desaparece dessas vidas é como se faltasse o próprio oxigénio para que possam viver. às vezes damos a alma em troca de quem apenas quer matar o vício. Stay cool

11:47 da tarde  

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